top of page

Sessão de trabalho 5

África e perspectiva Atlântica

Lucia Helena Oliveira Silva

(UNESP)

Quarta 14h às 17h

O parto nas senzalas

Marly Spacachieri (Universidade de Sorocaba)

O tratamento dispensado às escravas nas senzalas. O nascer e morrer das crianças. 

Comerciantes brasileiros em Lagos (Nigéria): os retornados na “Liverpool” da África ocidental

Angela Fileno da Silva (Universidade de São Paulo)

Em agosto de 1861, o obá de Lagos, Docemo, firmou um tratado que cedia seus domínios ao governo britânico e incluía a cidade na lista das colônias pertencentes à Grã-Bretanha. O documento era bastante breve, mas nas poucas linhas que o constituíam havia uma clara determinação acerca do amplo controle britânico a ser exercido a partir daquele momento. Embora a abertura irrestrita de Lagos às companhias comerciais europeias, em especial às britânicas, não estivesse entre os itens deste tratado, o que percebemos nos anos imediatamente posteriores à 1861 é que o comércio externo exercido por estas firmas cresceu de maneira significativa. Este é o ponto chave a partir do qual esta comunicação se desenvolve. A proposta é discutir o processo pelo qual a escalada colonizadora promovida pela Grã-Bretanha sobre Lagos transformou as dinâmicas comerciais operadas pela população brasileira estabelecida na cidade. 
Não são poucos os estudos que se dedicaram a compreender, por meio de diferentes recortes temporais e temáticos, quem foram os brasileiros que se estabeleceram na região da chamada Costa da Mina a partir do final do século XVII e, em maior número, depois da Revolta dos malês, em 1835. Para a discussão que se apresenta importa trabalharmos com a chamada terceira geração de brasileiros cujos integrantes, apesar de nunca terem vivido no Brasil em razão de serem descendentes de africanos libertos que retornaram para a Costa da Mina pós-1835, tinham seus negócios ligados ao mercado atacadista atlântico com o Brasil, em especial, com a cidade de Salvador. A intenção é compreender como este grupo teve de reconfigurar suas atividades em um contexto de escalada colonial britânica, diversificação dos artigos importados oferecidos no mercado regional lagosiano e de ampliação da concorrência entre atacadistas dedicados à exportação e importação de matérias-primas e manufaturados. Um segundo propósito se acrescenta ao primeiro e está relacionado à compreensão acerca de quem eram estes brasileiros que operavam negócios pelo Atlântico ou, em Lagos, atuavam no mercado varejista. Para tanto, selecionei dois conjuntos de documentos capazes de fornecer pistas acerca dos novos arranjos operados em função do contexto colonial que se apresentava. O primeiro é formado por três títulos de jornais lagosianos, o The Lagos Observer, o The Lagos Weekly Record e o The Government Gazette. O segundo grupo de fontes é constituído por relatórios anuais produzidos pela administração colonial de Lagos: os Blue Books. Tomando como ponto de partida a ideia de que, depois da instalação colonial britânica, os comerciantes brasileiros estabelecidos em Lagos tiveram de reconfigurar sua atuação nos mercados internacional e local, esta comunicação procura indicar quais foram as principais mudanças operadas por estes indivíduos.  

Os embaixadores do comércio de escravos na América Portuguesa: diplomacia entre tensões e tradições (1795-1805) 

Raphael dos Santos Gonçalves (FMU)

Este trabalho tem por objetivo apresentar as reflexões e hipóteses levantadas na pesquisa sobre duas das embaixadas daomeanas enviadas por seus monarcas a América Portuguesa em 1795 e em 1805.
A partir do levantamento e análise de fontes históricas, sob um olhar metodológico que preza pela História Atlântica desdobrada na perspectiva africanista, buscou-se compreender o fenômeno das embaixadas daomeanas como parte da cultura das comunidades atlânticas durante o comércio de escravos. Observou-se especialmente as transformações e permanências desse fenômeno diante de diferentes contextos luso-daomeanos e globais.


 

Sessão de trabalho 9

África Contemporânea

Patrícia Teixeira Santos

(UNIFESP)

Sessão de trabalho 9

Estudos de Filosofia Africana

Victor Martins de Souza  (UNIFESP-Cecafro-PUC-SP)

Às margens do Império: dinâmicas africanas e estratégias pessoais no comércio sertanejo do Planalto Central Angolano (décadas de 1840 a 1860)

Ivan Sicca Gonçalves (UNICAMP)

Mesmo que a abolição do tráfico atlântico de escravos de 1836 não tenha interrompido tal atividade em Angola, muitos historiadores têm apontado que esse processo histórico causou profundas transformações sociais na região, tanto no litoral quanto no interior, por causa da necessidade colonial por diversificação da pauta de exportações, com a crescente centralidade no foco em gêneros tropicais – o frequentemente chamado “comércio lícito”.
No Planalto Central, região fora da jurisdição colonial portuguesa, o crescente comércio de marfim e cera também implicou em intensas transformações sociais e políticas por causa do envolvimento de agentes centro-africanos que não eram provenientes das linhagens dominantes na formação e liderança de caravanas de longa distância. Nessa comunicação, que pretende explorar por uma perspectiva de história social as dinâmicas envolvidas na produção, comercialização e circulação de uma multiplicidade de produtos que eram envolvidos nesse comércio (cera, marfim, goma copal, fazendas, pólvora, aguardente, armas, corais, contarias, mantimentos, enxadas, animais e muitos outros), atentando para as estratégias sociais e escolhas pessoais dos principais agentes envolvidos em tal circuito: os chefes das caravanas, chamados de sertanejos, lidando simultaneamente com chefias africanas, a administração colonial portuguesa e as casas comerciais litorâneas; os seus intermediários – os pombeiros, macotas e quissongos, usando o comércio como uma oportunidade de ascensão social e mobilidade física; e a multidão de carregadores Centro Africanos, que estão constantemente barganhando suas sobrevivências. 
Para tal objetivo, usaremos os cadernos do sertanejo António Francisco Ferreira da Silva Porto, comerciante português nascido no Porto, que residiu no interior de Angola por cerca de 50 anos – tais cadernos, escritos entre 1846 e 1869, registram diariamente o cotidiano da sociedade caravaneira e das redes de comerciantes, que vão lidando com as lógicas socioeconômicas africanas ao mesmo tempo que alimentam uma demanda crescente de produtos para o centro do capitalismo industrial, em franca expansão.

O centro do mundo é aqui: cosmo-percepção yoruba 

Carlos Henrique Ọ̀nà Veloso  (UFRJ)

A apresentação tem como objetivo demonstrar, a partir da Cosmogonia yoruba, aspectos para reflexão ética. O trabalho está centrado em conceitos como “ayanmọ" (destino) e “nihinyii”  (aqui) e cosmo-percepção e substituição ao conceito de cosmovisão. Toda filosofia desenvolvida tem como referencial os itan (histórias originais) e os mitos, principalmente os cosmogônico.  

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO: UM HISTÓRICO MIGRATÓRIO

Felipe Antonio Honorato (USP / Faculdade IESCAMP)

Esta pesquisa tem como objetivo traçar, através de uma revisão bibliográfica, um histórico migratório da atual República Democrática do Congo, no período compreendido entre 1885, quando a região se torna o Estado Livre do Congo, uma colônia pessoal do Rei Leopoldo II da Bélgica, até os dias atuais, onde, após quase duas décadas de conflitos ininterruptos, a diáspora congolesa se configura como um dos maiores fluxos de refugiados do mundo. Neste esforço, dentro do período estabelecido, foi possível identificar as levas migratórias de congoleses e sua relação com os diferentes contextos políticos e econômicos do país africano.

Amilcar Cabral pelas letras do Blufo: o jornal estudantil do PAIGC

Priscilla Marques Campos (UFRJ)

A Guiné-Bissau e Cabo Verde estiveram em luta pela libertação nacional entre 1963-1973, o PAIGC foi o partido que unificou a maior parte dos movimentos para a ação. Amilcar Cabral (1924-1973), filho de pais cabo verdianos, nascido em Guiné-Bissau, após concluir os estudos secundários, recebeu uma bolsa de estudos para cursar Engenharia Agrônoma no Instituto Superior de Agronomia (1945-1952) em Lisboa. Participou da Casa da África e ativamente da Casa do Estudante do Império (CEI). Inicialmente, criada pelo governo para monitorar os estudantes vindos das colônias portuguesas porém, foi reconhecida por ter sido um dos berços do nacionalismo africano e do pan-africanismo, assim como a inspiração de um de seus grandes nomes, Kwame Nkrumah. Amílcar Cabral atuou como Presidente do Comité da Cultura, Secretário Geral (1950) e Vice-Presidente (1951) na CEI. Ainda enquanto estava estudando, conheceu outros estudantes africanos como Mario de Andrade, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e Alda Espírito Santo. Nessa época,enquanto estudantes debatiam junto com Cabral sobre a reafricanização dos espíritos, diante da educação assimiladora desenvolvida pelo ensino colonial. 
Utilizei como fonte da minha pesquisa o jornal estudantil Blufo do PAIGC, produzido na Escola-Piloto em Guiné-Conakry. A criação do periódico foi de responsabilidade de Luís Cabral desde o Congresso de Cassacá em 1964. O periódico circulou de forma gratuita nas escolas do PAIGC, com distribuição irregular entre as escolas das zonas libertadas em pequenas tiragens, de janeiro de 1966 até dezembro de 1970. 
As escolas foram idealizadas para a formação do homem novo através de uma pedagogia  que valorizava a práxis revolucionária. Essa primeira experiência de educação descolonizadora estava associada à importância da educação/alfabetização como ferramenta para a reafricanização dos sujeitos. Para Amílcar Cabral a assimilação cultural seria uma forte arma para a dominação colonial, portanto, seria a teoria uma ferramenta essencial para romper com essa lógica de domínio que não se dava apenas pelos territórios, mas também pela dominação das mentalidades.
Nos chamou atenção a presença em 19 colunas dentre as 22 edições que contam com a visita de Amílcar Cabral às escolas. Para o “Pedagogo da Revolução”, como foi apelidado, a educação era a principal arma contra o colonialismo.
Nessa apresentação irei analisar como a presença de Amilcar Cabral se inseriu no currículo dessas escolas através do jornal, sendo este uma inovadora ferramenta didática, elaborada pelo PAIGC, no sentido de colaborar para formação estudantil, cultural e política das pioneiras e pioneiros na construção de laços internacionalistas e pan-africanistas na luta pela autodeterminação dos povos.

Articulando saberes: a cultura Yorubá em foco

Priscilla Marques Campos / Julia Gabriela Pedroso Almeida / Carlos Henrique Ò̩nà Veloso (UFRJ)

O Curso de Extensão Órgana: Yorubá - Cultura e Língua, iniciado em 2018.1, sob a regência do Prof. Dr. Carlos Henrique Ò̩nà, vem oferecendo aulas gratuitas de Yorubá no IFCS articulando saberes não oriundos do tronco linguístico indo-europeu. Organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGF), o curso se impôs como necessário a partir da abertura da linha de pesquisa “Gênero, Raças e Cultura” e da demanda do corpo discente pelo estudo de tradições filosóficas diferentes das atualmente predominantes no universo acadêmico. Dentre as inúmeras e ricas tradições procuradas, a linha de pesquisa citada passou a trabalhar com projetos que têm como campo de pesquisa o povo e a cultura Yorubá. Tal processo encontra-se em sintonia com a Lei 10639/03, conquistada pela resistência e luta do movimento negro e que permite que hoje avancemos na reavaliação do papel dos negros e negras na história do Brasil (PEREIRA, 2011) e nas pesquisas sobre cultura e história africana. Este paper tem como propósito apresentar algumas notas sobre o curso, evidenciando a colaboração para a virada epistemológica da Filosofia e das Ciências Humanas de conjunto, preparando os alun@s nela envolvidos em trabalhar com saberes culturais, históricos e filosóficos sobre África a partir do olhar do povo Yorubá, buscando, dessa forma, afrocentrar (SANTOS, 2010) a Filosofia na UFRJ.

bottom of page